terça-feira, 6 de julho de 2010

Durante2: A Caverna (José Saramago)

Crescemos com a idéia fixa de que conflitos são prejudiciais, temos medo de discussões, não gostamos de brigas, e se por algum acaso nos encontramos em um... procuramos nos defender com todas as armas que coletamos durante nossa vida: palavras depreciativas que vão machucar o outro, uma porção de coisas do passado que decoramos para despejar em cima do outro nessa ocasião, mais algumas frases-prontas defensivas e a altura elevada da voz para...se nada der certo, ganharmos no grito.
Uma vez li uma pequena crônica que falava sobre essa tendência de gritarmos uns com os outros para sermos entendidos, ele falava que enquanto estávamos berrando não era possível escutarmos o outro, por isso, é através do sussurro que falamos o que é realmente é verdade, que precisa e deve ser ouvido, como as declaraçoes de amor.
Conflitos são necessários e importantes, muita coisa boa pode vir de um conflito de opinião se de fato levarmos em consideração todos os pontos de vista e não simplesmente o que consideramos como verdade absoluta, que na maioria das vezes é apenas egoísmo. Quem disse que uma discussão deve ser um jogo de ganha-e-perde? Quem disse que discussão sempre serve pra machucar? Quem falou que conflitos são maléficos? Quando foi que desaprendemos a sussurrar?

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Durante1: A Caverna (José Saramago)

Acho interessante o relacionamento que os livros, televisão e cinema têm com os cachorros. Não que seja regra, mas a grande maioria das vezes os cachorrinhos sempre são protagonistas cativantes, tão amistosos e simpáticos ganham um vale para a redenção no fim da história.
Dos cachorros-personagens que me vêm à mente:

1. Marley (filme e livro Marley& Eu)
2. Vincent (série Lost)
3. Dama e o Vagabundo (clássico da Disney)
4. Baleia (Vidas Secas, de Guimaraes Rosa)
5. Beasley (a baba dele parecia ultrapassar a tela da televisão - de Uma Dupla quase perfeita, filme com Tom Hanks)
6. Frank - o pug de MIB (Homens de Preto)
7. O cachorrinho de Melhor é Impossivel que teve o prazer de contracenar com Jack Nicholson)
8. Achado (A Caverna- Saramago)
9. Scooby-doo
10. Dos Quadrinhos: Milu (Tintim), Ideiafix (Asterix) e Ruffero (Groo) e Rantanplan ( Lucky Luke)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Antes: A Caverna (José Saramago)


Saramago por algum motivo me lembra meu avô, pegar um livro dele me dá vontade de sair correndo para casa do vovô e pedir: Vô, me fala de novo sobre como nossa família veio parar aqui...
Vovô Manel, cheio de história, sempre com um conto novo ou velho que faz a gente rir, chorar, ou calar bem pensativo. Meu avô sempre me incentivou a ler, mesmo que indiretamente, sua casa sempre foi cheia de livros, meu pai sempre comentava sobre os livros que ele lia na infância, e também me lembro das inúmeras histórias em quadrinho que ele nos presenteava. Ir para casa do vovô já me traz esse gosto de narrativa, a sua capacidade impressionante de relatar as histórias de nossa árvore genealógica, não somente com a boca, mas com o coração. Um tempo desses ele teve uma complicação na saúde e quando eu soube de sua internação senti todo meu corpo apertar numa saudade prematura, orei a Deus em quase um gemido inexprimível: Pai, não leva ele não, ainda tenho tanta história pra ouvir...
Ele melhorou, continua com sua mente linda e lúcida cheia de aventuras e feitos de mundos e poesias que sempre me fazem pensar, é... assim como Saramago...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Depois: Memórias de minhas putas tristes (Gabriel Garcia Marquez)


No último capítulo, no ponto final da última página é impossível não refletir sobre o tempo,não tentar reencontrar as antigas listas de coisas-que-quero-fazer-antes-de-morrer, não revisitar a agenda telefônica dos amigos que marcaram e marcam a existência, é totalmente impossível não calar na vontade de reviver a casa antiga da infância, de procurar cicatrizes e marcas no corpo e rir sozinha de suas histórias. No depois que fecho o invólucro branco de Garcia Marquez... paro na frente do espelho: a gente, que ta de dentro não percebe o quanto envelheceu quem ta de fora vê melhor – a voz do meu pai fala em algum canto da memória. Olho pro lado: a estante de livros (extensão da minha própria pele) e vejo Drummond co-participante da minha dor, dor-do-mundo, rindo baixinho a inevitabilidade da vida:

Bati no portão do tempo perdido, ninguém atendeu.
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera
pela metade; a outra metade são cinzas.
Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater. O eco devolve
minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar,
no bater e bater.

O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.

(casa do tempo perdido, de Carlos Drummond de Andrade)

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Durante3: Memórias de minhas putas tristes (Gabriel Garcia Marquez)


Ao mesmo tempo que leio o amor transformando a vida de um jornalista que aparentemente não tem mais idade para mudar nada, ouço, involuntariamente os berros desaforados da família vizinha a minha casa. Tendo a desacreditar das maravilhas do amor, vendo que talvez a rotina aniquile lentamente a espontaneidade dos relacionamentos. Nesse momento, o que acredito ser o filho (só os conheço pela voz) grita que para mãe que ela é uma burra, a filha ofendida por sua mãe ou por talvez acreditar que o xingamento engloba também a sua existência, responde uma porção de impropérios...a mãe, que nunca ouvi falar mansamente, continua, sem se perder no meio dos gritos dos filhos, a sua cantilena estridente, ouço então alguém ligar o motor de um carro, e uma voz mais grave (possivelmente o pai) grita que todos estão errados e que ele está atrasado demais pra ter que lidar com aquilo. Nesse ponto, já quase não conseguindo mais me concentrar no livro, ouço uma risada conhecida no quarto ao lado, e percebo que meus pais conversam sobre algo trivial...
Respiro fundo.
Ligo Piaf bem alto para abafar os sons externos.
O amor é possível apesar de.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Durante2: Memórias de minhas putas tristes (Gabriel Garcia Marquez)


Por coincidência, ou não, revi um filme europeu que trata da vida de dois velhos, Maurice e Ian que em tempos áureos eram atores, contudo, nunca chegaram a ser estrelas conhecidas internacionalmente, mas a vida que levam como grandes amigos envoltos na rotina de passeios culturais, cafés no restaurante de sempre e discussões sobre os jornais é abalada pela chegada de uma jovem, sobrinha-neta de Ian. Apesar de sua falta de modos e desinteresse pela vida irritarem profundamente seu tio Ian, Maurice, pelo contrario apaixona-se por ela, e com paciência resolve mostrar a vida cheia de arte que envolve a sua própria à jovem apática: a apelida de Vênus, dedica a ela parágrafos inteiros de Shakespeare, e admira sua beleza quase intangível.

Vênus ou Delgadina, a beleza jovem que parece que não vai se corromper nunca, abalam as estruturas de alguém que vive a falência da vida. De alguma forma, a juventude sempre permanece intacta.


** filme: Venus no imdb: http://www.imdb.com/title/tt0489327/

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Durante1: Memórias de minhas putas tristes (Gabriel Garcia Marquez)


Lendo a descrição de algumas mulheres no livro..nao pude nao parar para pensar nas mulheres (fictícias mas tao reais) que de alguma forma me marcam, me incitam e me emocionam.

Da feminilidade latente:

- A insignificância de Macabéa (Hora da estrela, Clarice Lispector)
- A meninice de Capitu (Dom Casmurro, Machado de Assis)
- A passionalidade de Medeia (mitologia grega)
- A criatividade de Amèlie (Filme Frances: O fabuloso destino de Amelie Polain)
-A inocência de Holly Goligtly (Bonequinha de luxo)
- A sensualidade de Rita Baiana (o cortiço)
-A curiosidade de Sofia (O mundo de Sofia)
- A inconstância de Madalena ( Jogo da Amarelinha, Julio Cortazar)
- A inquetude de Sierva Maria (Do Amor e outros demônios, Gabriel Garcia Marquez)
- A inalcançabilidade de Beatriz (Dante)
- A sagacidade de Sherazade (mil e uma noites)
- A melancolia de Clarissa Dalloway (Virginia Wolf)
-A imacubilidade de Dulcinéia (Dom Quixote)
-A liberdade de Lucy (Beatles: Lucy in the Sky with diamonds )
- A impulsividade de Clementine (filme: Brilho Eterno de uma mente sem lembranças)
- A amistosidade de Morte (quadrinhos de Neil Gaiman)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Antes: Memórias de minhas putas tristes (Gabriel Garcia Marquez)



Gabo foi o primeiro homem que me fez chorar. Foi o primeiro a me fazer sentir a dor aguda do amor e a pensar de fato sobre isto. Lembro como se fosse ontem, madrugada, sozinha no quarto, agarrada ao Amor e outros demônios, sentindo pela primeira vez o gosto de lágrima-romântica descendo pelo meu rosto.
De lá para cá acredito que esse tipo de lágrima já se tornou amiga, e que as madrugadas já conhecem o nome de Gabriel.
Na capa, me deparo com um senhor de idade, todo vestido de branco, caminhando inexoravelmente para o fundo branco. O excesso de brancura tão evidente (fundo, roupa, cabelo, pele) de alguma forma me faz lembrar o meu relacionamento com Gabriel. Posso relembrar facilmente diversos momentos conturbados de minha vida onde a certeza de que Gabo estaria ali, na madrugada, me confortou e conforta.
Hoje em dia por onde passo encontro cachorro com estrelas na testa, cidades onde a chuva permanece por anos e anos e anos, pessoas que todos sabem que vão morrer ali na esquina, úrsulas e dilemas amorosos, mortalhas feitas e desfeitas, irmãos que matam pela honra da irmã, padres apaixonados...