quarta-feira, 23 de junho de 2010

Durante1: A Caverna (José Saramago)

Acho interessante o relacionamento que os livros, televisão e cinema têm com os cachorros. Não que seja regra, mas a grande maioria das vezes os cachorrinhos sempre são protagonistas cativantes, tão amistosos e simpáticos ganham um vale para a redenção no fim da história.
Dos cachorros-personagens que me vêm à mente:

1. Marley (filme e livro Marley& Eu)
2. Vincent (série Lost)
3. Dama e o Vagabundo (clássico da Disney)
4. Baleia (Vidas Secas, de Guimaraes Rosa)
5. Beasley (a baba dele parecia ultrapassar a tela da televisão - de Uma Dupla quase perfeita, filme com Tom Hanks)
6. Frank - o pug de MIB (Homens de Preto)
7. O cachorrinho de Melhor é Impossivel que teve o prazer de contracenar com Jack Nicholson)
8. Achado (A Caverna- Saramago)
9. Scooby-doo
10. Dos Quadrinhos: Milu (Tintim), Ideiafix (Asterix) e Ruffero (Groo) e Rantanplan ( Lucky Luke)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Antes: A Caverna (José Saramago)


Saramago por algum motivo me lembra meu avô, pegar um livro dele me dá vontade de sair correndo para casa do vovô e pedir: Vô, me fala de novo sobre como nossa família veio parar aqui...
Vovô Manel, cheio de história, sempre com um conto novo ou velho que faz a gente rir, chorar, ou calar bem pensativo. Meu avô sempre me incentivou a ler, mesmo que indiretamente, sua casa sempre foi cheia de livros, meu pai sempre comentava sobre os livros que ele lia na infância, e também me lembro das inúmeras histórias em quadrinho que ele nos presenteava. Ir para casa do vovô já me traz esse gosto de narrativa, a sua capacidade impressionante de relatar as histórias de nossa árvore genealógica, não somente com a boca, mas com o coração. Um tempo desses ele teve uma complicação na saúde e quando eu soube de sua internação senti todo meu corpo apertar numa saudade prematura, orei a Deus em quase um gemido inexprimível: Pai, não leva ele não, ainda tenho tanta história pra ouvir...
Ele melhorou, continua com sua mente linda e lúcida cheia de aventuras e feitos de mundos e poesias que sempre me fazem pensar, é... assim como Saramago...

terça-feira, 1 de junho de 2010

Depois: Memórias de minhas putas tristes (Gabriel Garcia Marquez)


No último capítulo, no ponto final da última página é impossível não refletir sobre o tempo,não tentar reencontrar as antigas listas de coisas-que-quero-fazer-antes-de-morrer, não revisitar a agenda telefônica dos amigos que marcaram e marcam a existência, é totalmente impossível não calar na vontade de reviver a casa antiga da infância, de procurar cicatrizes e marcas no corpo e rir sozinha de suas histórias. No depois que fecho o invólucro branco de Garcia Marquez... paro na frente do espelho: a gente, que ta de dentro não percebe o quanto envelheceu quem ta de fora vê melhor – a voz do meu pai fala em algum canto da memória. Olho pro lado: a estante de livros (extensão da minha própria pele) e vejo Drummond co-participante da minha dor, dor-do-mundo, rindo baixinho a inevitabilidade da vida:

Bati no portão do tempo perdido, ninguém atendeu.
Bati segunda vez e mais outra e mais outra.
Resposta nenhuma.
A casa do tempo perdido está coberta de hera
pela metade; a outra metade são cinzas.
Casa onde não mora ninguém, e eu batendo e chamando
pela dor de chamar e não ser escutado.
Simplesmente bater. O eco devolve
minha ânsia de entreabrir esses paços gelados.
A noite e o dia se confundem no esperar,
no bater e bater.

O tempo perdido certamente não existe.
É o casarão vazio e condenado.

(casa do tempo perdido, de Carlos Drummond de Andrade)