segunda-feira, 24 de maio de 2010

Durante3: Memórias de minhas putas tristes (Gabriel Garcia Marquez)


Ao mesmo tempo que leio o amor transformando a vida de um jornalista que aparentemente não tem mais idade para mudar nada, ouço, involuntariamente os berros desaforados da família vizinha a minha casa. Tendo a desacreditar das maravilhas do amor, vendo que talvez a rotina aniquile lentamente a espontaneidade dos relacionamentos. Nesse momento, o que acredito ser o filho (só os conheço pela voz) grita que para mãe que ela é uma burra, a filha ofendida por sua mãe ou por talvez acreditar que o xingamento engloba também a sua existência, responde uma porção de impropérios...a mãe, que nunca ouvi falar mansamente, continua, sem se perder no meio dos gritos dos filhos, a sua cantilena estridente, ouço então alguém ligar o motor de um carro, e uma voz mais grave (possivelmente o pai) grita que todos estão errados e que ele está atrasado demais pra ter que lidar com aquilo. Nesse ponto, já quase não conseguindo mais me concentrar no livro, ouço uma risada conhecida no quarto ao lado, e percebo que meus pais conversam sobre algo trivial...
Respiro fundo.
Ligo Piaf bem alto para abafar os sons externos.
O amor é possível apesar de.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Durante2: Memórias de minhas putas tristes (Gabriel Garcia Marquez)


Por coincidência, ou não, revi um filme europeu que trata da vida de dois velhos, Maurice e Ian que em tempos áureos eram atores, contudo, nunca chegaram a ser estrelas conhecidas internacionalmente, mas a vida que levam como grandes amigos envoltos na rotina de passeios culturais, cafés no restaurante de sempre e discussões sobre os jornais é abalada pela chegada de uma jovem, sobrinha-neta de Ian. Apesar de sua falta de modos e desinteresse pela vida irritarem profundamente seu tio Ian, Maurice, pelo contrario apaixona-se por ela, e com paciência resolve mostrar a vida cheia de arte que envolve a sua própria à jovem apática: a apelida de Vênus, dedica a ela parágrafos inteiros de Shakespeare, e admira sua beleza quase intangível.

Vênus ou Delgadina, a beleza jovem que parece que não vai se corromper nunca, abalam as estruturas de alguém que vive a falência da vida. De alguma forma, a juventude sempre permanece intacta.


** filme: Venus no imdb: http://www.imdb.com/title/tt0489327/

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Durante1: Memórias de minhas putas tristes (Gabriel Garcia Marquez)


Lendo a descrição de algumas mulheres no livro..nao pude nao parar para pensar nas mulheres (fictícias mas tao reais) que de alguma forma me marcam, me incitam e me emocionam.

Da feminilidade latente:

- A insignificância de Macabéa (Hora da estrela, Clarice Lispector)
- A meninice de Capitu (Dom Casmurro, Machado de Assis)
- A passionalidade de Medeia (mitologia grega)
- A criatividade de Amèlie (Filme Frances: O fabuloso destino de Amelie Polain)
-A inocência de Holly Goligtly (Bonequinha de luxo)
- A sensualidade de Rita Baiana (o cortiço)
-A curiosidade de Sofia (O mundo de Sofia)
- A inconstância de Madalena ( Jogo da Amarelinha, Julio Cortazar)
- A inquetude de Sierva Maria (Do Amor e outros demônios, Gabriel Garcia Marquez)
- A inalcançabilidade de Beatriz (Dante)
- A sagacidade de Sherazade (mil e uma noites)
- A melancolia de Clarissa Dalloway (Virginia Wolf)
-A imacubilidade de Dulcinéia (Dom Quixote)
-A liberdade de Lucy (Beatles: Lucy in the Sky with diamonds )
- A impulsividade de Clementine (filme: Brilho Eterno de uma mente sem lembranças)
- A amistosidade de Morte (quadrinhos de Neil Gaiman)

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Antes: Memórias de minhas putas tristes (Gabriel Garcia Marquez)



Gabo foi o primeiro homem que me fez chorar. Foi o primeiro a me fazer sentir a dor aguda do amor e a pensar de fato sobre isto. Lembro como se fosse ontem, madrugada, sozinha no quarto, agarrada ao Amor e outros demônios, sentindo pela primeira vez o gosto de lágrima-romântica descendo pelo meu rosto.
De lá para cá acredito que esse tipo de lágrima já se tornou amiga, e que as madrugadas já conhecem o nome de Gabriel.
Na capa, me deparo com um senhor de idade, todo vestido de branco, caminhando inexoravelmente para o fundo branco. O excesso de brancura tão evidente (fundo, roupa, cabelo, pele) de alguma forma me faz lembrar o meu relacionamento com Gabriel. Posso relembrar facilmente diversos momentos conturbados de minha vida onde a certeza de que Gabo estaria ali, na madrugada, me confortou e conforta.
Hoje em dia por onde passo encontro cachorro com estrelas na testa, cidades onde a chuva permanece por anos e anos e anos, pessoas que todos sabem que vão morrer ali na esquina, úrsulas e dilemas amorosos, mortalhas feitas e desfeitas, irmãos que matam pela honra da irmã, padres apaixonados...